
Filhos criados e encaminhados na vida. Missão cumprida. É hora de romper os limites do lar e ir além do trabalho na cozinha, dos afazeres que determinam a rotina doméstica. É hora de viver para si e concretizar aquele projeto sempre sonhado, mas nunca realizado, seja por falta de oportunidade, de liberdade para encarar um mundo novo e novos relacionamentos, ou por imposição mesmo das circunstâncias. O fato é que falou mais alto e forte o desejo da realização pessoal, da vontade de ter uma qualificação profissional antes impossível em razão das tarefas assumidas como mães e donas de casa.
Desperta atenção o caso de Izabel Marques Batista, que, em março de 2015, vai colar grau em Letras. Aos 62 anos, ela terminou o curso de três anos e meio em dezembro passado e já pensa em partir para uma especialização na área. Quer fazer mestrado e dar aulas em uma faculdade. ?É tudo que sonhei?, diz Izabel, 42 anos de casamento, mãe de três filhos, que lhe deram duas netas.
Apoio da família
Ela conta que, no começo, a família ficou com um pé atrás quando disse que desejava estudar. ?Ninguém acreditou que eu queria mesmo ingressar na faculdade, depois de tanto tempo fora dos bancos escolares?, sublinhou. Superada a surpresa inicial, marido, filhos e outros familiares deram todo apoio e até incentivaram a ideia.
Cursar Letras depois de renegar a antiga rotina dos trabalhos caseiros foi um desafio e uma experiência cheia de descobertas e novidades. Novos amigos, novos ambientes de relacionamentos no âmbito acadêmico. ?Além de ser um lugar de estudar, a faculdade se tornou o meu lazer também. Adorava ir e estar com os colegas de curso?, assinala. De acordo com ela, moradora da Cidade Jardim, não houve barreiras ou preconceito e o estímulo que teve dos companheiros de sala de aula, dos professores e diretores foi um motivo a mais para levar em frente o seu ideal de ter um diploma de 3º grau.
?Devo à Bolsa Universitária da OVG o fato de ter me tornado uma pessoa mais qualificada. Hoje só não estuda quem não quer, as oportunidades existem e precisam ser aproveitadas, como eu aproveitei?, afirmou. ?A Bolsa foi muito importante para que eu pudesse, com coragem e disposição, fazer essa reviravolta na minha vida?.
Izabel conta que teve a chance de fazer a contrapartida exigida pelo programa durante a festa do Divino Pai Eterno, em Trindade. Ela lembra com saudades da madrugada em que ficou trabalhando no Centro de Apoio ao Romeiro da OVG, instalado todos os anos na GO-060 para atender aos milhares de fiéis que vão a pé a Trindade pagar promessas. ?Achei divertido e cumpri a minha obrigação?. Ela atuou ainda em hospitais para preencher a carga horária determinada pela Bolsa.
Marilse conseguiu a Bolsa Universitária há seis meses
Foto: Assessoria OVG
Dificuldades
Aos 64 anos, Marilse Martins Naue também decidiu dar novo rumo à sua vida e fazer um curso superior. Atualmente no 8º período de Direito, entrou para a Bolsa Universitária há seis meses. Ela enfrentava dificuldades financeiras e pagar as mensalidades era algo sacrificante. Até que, após algumas tentativas frustradas, obteve o benefício.
?Deixava de comprar medicamentos para pagar a faculdade?, cita, acrescentando que tudo ficou mais fácil depois que virou bolsista da OVG. ?Foi muito bom para mim, a realização de um sonho?. Mãe de quatro filhos e com seis netos e três bisnetos, Marilse diz que deve terminar o curso em 2016.
Também no caso dela a decisão de voltar a estudar causou surpresa entre os familiares. Os filhos se mostraram céticos de início, mas depois compreenderam a vontade da mãe e passaram a lhe dar apoio. Marilse, que é artista plástica nas horas vagas, revela que pretende tentar um estágio na área do Direito. ?No meu caso, fazer curso superior é vida renovada, participação e crescimento pessoal que a Bolsa Universitária me proporcionou?, frisa.
Residente no Jardim Leblon, Região Noroeste de Goiânia, Marilse tem espalhados na sala de casa onde mora diversos quadros que pintou, retratando a natureza. ?Sempre gostei de pintar, mas não conseguia pôr em prática esse dom enquanto os filhos eram pequenos, mas agora, com a família criada, posso me dedicar à arte com mais tranquilidade e aos estudos?, destaca.
Izabel e Marilse se valeram do supletivo para acelerar seus projetos de cursar faculdade e ganhar tempo. ?Estudava em casa e ia eliminando as disciplinas?, lembra. Izabel conta que, quando era jovem, os pais consideravam os estudos ?coisa de homem?, e que às mulheres bastava que soubessem cozinhar e costurar. Devido à necessidade de se dedicar à família e trablhar em casa. Marilse ficou cerca de 30 anos sem frequentar uma escola. ?Nunca é tarde para realizar nossos ideais?, cita.
O programa
O Bolsa Universitária foi instituído pelo Governo do Estado de Goiás em 1999, com o objetivo de oferecer oportunidade a universitários comprovadamente sem condições de custear seus estudos. Desde então, 158 mil estudantes foram beneficiados em todo o Estado.
A partir de 2011, o programa passou a considerar, além da situação socioeconômica para concessão de benefícios, a meritocracia. As bolsas parciais, destinadas a estudantes com renda bruta familiar mensal de até seis salários mínimos, passaram a ter seu valor definido de acordo com o desempenho acadêmico do bolsista.
Foi criada a bolsa integral, destinada a alunos com renda bruta familiar mensal de até três salários mínimos. Para atender à exigência da contrapartida estabelecida pelo programa, o estudante deve cumprir atividade, na sua área de formação ou em ações humanitárias, em entidades governamentais ou não governamentais sem fins lucrativos, credenciadas na OVG. A seleção de novos beneficiários é semestral.
Goiás Agora