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Sobre duas rodas: sequelas da imprudência
Trânsito

Nos últimos dez anos, compreendidos entre 2003 a 2012, os acidentes de trânsito ocuparam a segunda colocação entre as principais causas de mortes provocadas por fatores externos, ceifando mais de 393 mil vidas. Em Goiás, no mesmo período, 16.846 pessoas perderam suas vidas em decorrência da gravidade dos acidentes.

Quando conseguem superar o impacto das colisões, as vítimas passam a depreender uma nova energia em suas vidas; a de superação das debilidades adquiridas e das perdas físicas, motoras e cognitivas, em um verdadeiro processo que refaz completamente sua existência e a de todos ao seu redor. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apenas em 2001 foram gastos R$ 5,3 bilhões com custos de saúde gerados pelos acidentes de trânsito, o que, à época, foi equivalente a 0,4% de todo Produto Interno Bruto Nacional.

Dados como esse integram o Boletim Epidemiológico de Acidentes de Trânsito, produzido pelo Observatório da Mobilidade Urbana, um órgão estadual, instituído por decreto em 2012, e que congrega ações das Secretarias da Saúde (SES); das Cidades, Infraestrutura e Região Metropolitana (Sicam); Universidade Estadual de Goiás (UEG) e Detran Goiás. Criado para embasar estudos que proponham melhorias no trânsito nos quesitos segurança e mobilidade urbana, o Observatório tem pautado suas ações estabelecendo parcerias com os poderes públicos municipais. Segundo explica a coordenadora de vigilância de violências e acidentes, Maria de Fátima Rodrigues, dados levantados no sistema do seguro DPVAT mostram que 60% dos envolvidos em acidentes no Brasil ficam inválidos. “Conseguimos traçar o perfil das maiores vítimas dos acidentes de trânsito e concluímos que eles são jovens do sexo masculino, na faixa etária dos 20 a 39 anos, motociclistas e em plena fase produtiva de suas vidas”, evidencia Maria de Fátima.

Feriado fatídico

Foto Acervo Pessoal Heloany:

Heloany: “Levo uma vida normal, apenas dependo da cadeira de rodas para isso”.
Foto: acervo pessoal

Imprudência, audácia, excesso de velocidade ou uma junção de todos esses fatores marcaram para sempre o Sábado de Aleluia da jovem Heloany Lopes Camargo, de 23 anos. Há dois anos e sete meses, ela estava na garupa do namorado quando uma ultrapassagem mal sucedida culminou na colisão de três motos. Heloany foi arremessada na calçada, passando sobre o condutor da moto, e sofrendo uma lesão medular que a levou para a cadeira de roda. “Nunca perdi a sensibilidade das minhas pernas, mas luto para recuperar seus movimentos”, conta.

Entre os envolvidos no acidente, Heloany foi a que sofreu os maiores danos. Foram 81 dias de UTI, uma cirurgia para colocação de pino na coluna e uma série de comprometimentos à sua mobilidade. Aos 21 anos, a jovem teve que descobrir que, mesmo preparada para encarar as dificuldades causadas pelas sequelas do acidente, nem todos ao seu redor estavam dispostos a fazer o mesmo. “Foi muito duro voltar para casa em uma cadeira de rodas e perceber que as pessoas do meu convívio, da minha vizinhança, não conseguiam mais me encarar diante de uma cadeira de rodas”, desabafa.

A superação afastou os que não compreendem as fatalidades de vida, mas também aproximou aqueles que realmente fazem a diferença na vida da jovem. Hoje, Heloany diz levar uma vida normal, alterada pelo fato de contar com quatro rodas para se locomover. Sonha em fazer uma faculdade, frequenta a Igreja aos finais de semana, faz passeios com sua família e dedica-se à sua reabilitação. São dois dias na semana voltados ao Crer, onde ela faz fisioterapia, terapia ocupacional e arteterapia. Em outubro desse ano, aos 23 anos, Heloany se aposentou por invalidez. O dinheiro recebido mensalmente passou a integrar uma poupança, que será utilizada no momento oportuno, relata a jovem. Recentemente, ela teve a felicidade de percorrer o corredor da Igreja para ser a madrinha de casamento de uma amiga. Essa é a vida que se faz e refaz enquanto luta-se pela superação dos obstáculos que, repentinamente, a fizeram enxergar a sua existência por outros ângulos.

- Goiás Agora