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Produção de lingerie movimenta a economia de Taquaral
Economia

É possível que uma cidade do interior de Goiás, com cerca de 6 mil habitantes, consiga movimentar R$ 28 milhões por ano com a produção de lingerie?

Esta cidade existe e fica a 95 quilômetros de Goiânia, capital do Estado. Taquaral conta com números superlativos: 120 confecções, 60 lojas de moda íntima feminina e 800 empregos diretos nas confecções. Os números são da União dos Confeccionistas de Taquaral e Região (Unica). “Hoje, nós movimentamos R$ 28 milhões por ano com a venda de peças íntimas: 30% ficam em Goiás e o restante, 70%, vendemos para os demais estados brasileiros”, ressalta Renato Silveira Vilas Boas, confeccionista e presidente da Unica. As primeiras confecções embarcaram no município no início da década de 1990. “As lojas com vitrines começaram a aparecer só em 2009”, relata Renato Silveira.

Maria Estela trabalhando na pequena confecção montada em casa Foto: reprodução

Maria Estela trabalhando na pequena confecção montada em casa
Foto: reprodução

História de sucesso
Maria Estela de Lima Santos, de 42 anos, é mais uma personagem da história de sucesso do setor de confecções de Taquaral. Natural de Jaguará (GO), mudou-se para Taquaral ainda criança. “Aqui não tinha praticamente nada, só um laticínio. Depois de fazer um curso de corte e costura na prefeitura, aos 20 anos (1990), eu comecei a costurar em casa fazendo todo tipo de roupas para os moradores daqui mesmo. Depois vieram duas confecções pra cá e eu fui trabalhar numa delas. Eu me lembro do teste que era produzir 100 calcinhas em três dias. Eu cumpri a missão em dois dias e consegui o emprego”, relata. Com a experiência adquirida na máquina de costura, Maria Estela começou a gerenciar a pequena confecção e teve a carteira de trabalho assinada pela primeira vez. Nessa época a cidade ainda não tinha se tornado um polo de roupas íntimas. Produção de roupas íntimas na D'STER Foto: Ângela Scalon

Produção de roupas íntimas na D’ster
Foto: Ângela Scalon

O sonho de trabalhar por conta própria bateu forte no coração de Maria Estela. “Ganhando um salário mínimo eu comprei um carro e três máquinas de costura. Meu marido sustentava a casa e eu juntava dinheiro para investir no futuro da família. Eu trabalhei só quatro anos como empregada. Nessa época surgiram mais duas confecções, uma delas era a minha. Com o dinheiro do acerto eu comprei material para produzir 100 conjuntos que vendi em Goiânia. O problema é que o que eu produzia já tinha muita oferta em Goiás. Felizmente apareceu um empresário que comprou a minha mercadoria e me propôs um desafio: fazer sutiã com aro. Foi um sacrifício, minhas máquinas O desafio da empresária é ganhar espaço no exterior Foto: Ângela Scalon

O desafio da empresária é ganhar espaço no exterior
Foto: Ângela Scalon

A partir deste momento a ex-costureira passou a ser patroa. “Eu contratei três costureiras, mas o problema das máquinas persistia. Eu fui conhecer de máquinas depois que um técnico veio até minha casa consertar as máquinas que eu usava. Depois de seis anos eu fui comprando as máquinas mais modernas que contribuíram para o aumento da minha produção. Eu passei de 300 conjuntos para 1.000 por semana. Meu produto foi sendo cada vez mais aceito e cheguei ao ponto em que tive que aprender tudo outra vez. Eu só tinha uma compradora que parou de comprar meus produtos. Mais uma vez eu me vi numa situação difícil. Foi aí que eu criei a minha marca, a D’ster, e consegui novas clientes”, lembra. Maria Estela investiu em cursos voltados para pequenos empreendedores e hoje conta com 45 funcionários, 40 máquinas, três alas de produção e 10 mil peças produzidas todos os meses. O desafio agora é ganhar o mercado internacional.

Mão de obra
O polo de lingerie de Goiás inclui, além de Taquaral, com outras cinco cidades: Itaguari, Itauçu, Itaberaí, Santa Rosa e Itaguaru. O movimento na indústria de transformação e o comércio gera novos empregos. “A mão de obra, qualificada e sem qualificação, já foi absorvida pelo mercado. Nós temos uma escola técnica do Senai que está nos ajudando com os menores que estão fazendo cursos para entrarem no mercado. Tem uma creche em construção que deve atrair novas famílias para o município. Nós precisamos de moradia para atrairmos mais mão de obra para Taquaral”, salienta Renato Silveira Vilas Boas. Nas cidades que formam o polo da moda íntima de Goiás, o crescimento dos negócios é maior do que a quantidade de gente para trabalhar.

Lojas na avenida de entrada de Taquaral Foto: Ângela Scalon

Lojas na avenida de entrada de Taquaral
Foto: Ângela Scalon

Crédito Produtivo da SIC 
A Secretaria de Indústria e Comércio (SIC), através do programa Crédito Produtivo, oferece linha de financiamento aos empreendedores de Taquaral e região, com juros reduzidos de 3% ao ano, carência de 180 dias e prazo de 36 meses para valores de até R$ 25 mil. O crédito é operacionalizado junto à GoiásFomento. “Para fazer o empréstimo o empresário (micro empresa) ou empreendedor individual com CNPJ deve participar do Curso para Empreendedores da SIC, oferecer garantias reais ou aval e procurar a GoiasFomento. Nos últimos quatro anos atendemos 1,1 mil empreendedores em Taquaral, Itaberaí, Itaguari e Itauçu”, explica o superintendente de Micro e Pequenas Empresas da SIC, Luiz Rézio. Em Goiânia os interessados devem procurar a GoiásFomento para acessar a linhas de financiamento, e no interior, as agências do Vapt Vupt.

No curso Plano de Negócios da SIC, pré-requisito para ter acesso à linha de crédito, o empresário obtém conhecimento sobre recursos humanos, finanças, formatação de preço, compras de matéria prima, marketing, exportação e registro de marca. “Essa linha de crédito é fundamental para o desenvolvimento da economia goiana. Todas as regiões que recebem grandes empreendimentos necessitam dos pequenos negócios para atender ao fornecimento de serviços, produtos específicos das Micro e Pequenas Empresas”, destaca Luiz Rézio.  O Governo do Estado destina 15% dos recursos do Funproduzir para o financiamento e apoio das Micro e Pequenas Empresas.

Presidente da UNICA, Renato Silveira trabalha para conquistar o mercado internacional da moda íntima Foto: Ângela Scalon

Presidente da UNICA, Renato Silveira trabalha para conquistar o mercado internacional
Foto: Ângela Scalon

Empresários de Taquaral receberam, recentemente, empresários da Itália e da Espanha para uma visita técnica promovida pela SIC. “Eles compararam os nossos produtos aos melhores do mundo. A SIC deve marcar outra visita. Nós já exportamos em 2013 para a Espanha, mas no final do ano a União Europeia perdeu alguns benefícios fiscais que tinha para comprar do Brasil. Com isso a lucratividade do importador da Europa caiu. Agora nós estamos buscando outros caminhos para abrirmos mercado no exterior. A África do Sul é um exemplo”, afirma Renato Silveira.

Sebrae presente em Taquaral
O Sebrae-Goiás também está presente em Taquaral e municípios vizinhos levando capacitação, consultoria, tecnologia e inovação aos empresários. “Nós estamos há um bom tempo em Taquaral e já iniciamos um trabalho de formalização de uma associação por conta da quantidade de empresários que exite no local. As ações que estamos levando no decorrer desses anos são ações de capacitação gerencial e também na parte de tecnologia e inovação por meio do Sebraetec”, conta a analista e gestora de Projetos na Regional Centro do Sebrae Goiás, Grace Isaac.

O Sebrae, juntamente com um grupo de empresários de Taquaral, está fomentando o projeto Inteligência Comercial Internacional. “O objetivo é prospectar compradores dos Estados Unidos e do México. Para que isso ocorra nós estamos capacitando esses empresários nas áreas de marketing internacional e planejamento internacional. Nós sempre dizemos aos empresários que a partir do momento que eles investem num produto diferenciado, com uma identidade, qualidade, competitividade e inovação tecnológica eles conseguem um mercado com um público específico que dá valor a esses atributos”, salienta Grace. O Sebrae apoia também a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sectec) e a Secretaria de Indústria e Comércio (SIC) na formatação do Arranjo Produtivo Local (APL) de Taquaral.

Colégio Tecnológico de Moda Íntima 

A Secretaria de Ciência e Tecnologia está trabalhando na implantação do Colégio Tecnológico (Cotec) de Moda Íntima de Taquaral, voltado para a área de confecções (roupas íntimas). “Nós vamos levar ao município máquinas que vão proporcionar uma melhor qualidade nos cortes e inovação que vão resultar num serviço diferenciado. Estamos levando o Colégio Tecnológico para atender a demanda dos empresários do Arranjo Produtivo Local de lá”, destaca a superintendente de Inovação da Sectec, Aline Figlioli. O APL de Taquaral está em fase de conclusão.

O Arranjo Produtivo Local (APL) é um aglomerado de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território. O objetivo do APL é promover o desenvolvimento regional por meio de estímulo à cooperação entre capacidade produtiva local, instituições de pesquisa, agentes de desenvolvimento, poderes federal, estadual e municipal com vistas à dinamização dos processos locais de inovação. “Várias cidades daquela região possuem um aglomerado de empresas desse segmento. Nós oferecemos algo que eles podem usar de forma conjunta”, pontua Aline Figlioli. Servidores da Sectec participaram recentemente de uma feira de tecnologia, no exterior, na área de confecção. O objetivo é trazer novidades para o fortalecimento dos APLs de todo o Estado.

Máquina de corte automatizado poderá aumentar produção em 300% Foto: Ângela Scalon

Máquina de corte automatizado poderá aumentar produção em 300%
Foto: Ângela Scalon

Colégio Tecnológico 
O Colégio Tecnológico (Cotec) de Taquaral, administrado pela Sectec, está em fase de conclusão. A máquina de corte automatizado, Audaces, que será adquirida para o Cotec, oferece uma velocidade até cinco vezes maior que o sistema tradicional e garante que o desperdício seja próximo de zero. “A máquina tem um rendimento excelente. O que uma confecção demoraria 15 dias para cortar a máquina Audaces faz em poucas horas. Com o tecido teremos também uma economia de mais ou menos 20%, isso sem contar o tempo”, aponta Renato Silveira. Levantamento feito pela Sectec revela que a tecnologia no setor de confecções poderá aumentar em até 300% a produção. Uma unidade que hoje corta cinco mil peças diárias, por exemplo, pode aumentar o volume de produção para 20 mil peças diárias.

Mais informações: (62) 3201-5202

- Goiás Agora